Cada nova atualização de recursos do celular é aguardada ansiosamente e instalada assim que possível, melhor ainda quando ela traz um novo recurso certo? Mas e se a novidade foi prometida meses antes, ainda no anúncio do aparelho? Pois esta é uma tendência cada vez mais comum não só em celulares, como em gadgets em geral.
Work in progress
Exemplos não faltam, um dos mais recentes é o do iOS 15.1, que trouxe dois recursos — a gravação de vídeo no formato ProRES e o SharePlay — anunciados mais de um mês antes, durante a apresentação do iPhone 13 e do iOS 15, respectivamente, mas que não estavam disponíveis quando o iPhone 13 Pro chegou às prateleiras.
Este caso é diferente, porém, de quando um novo recurso sequer foi usado no material de divulgação do aparelho, caso do Galaxy S21 Ultra, que deve receber a opção de gravação de fotos em formato RAW, recurso que não chegou a ser prometido pela fabricante.
Um exemplo em 2021 foi da gravação em formato LOG do Oppo Find X3 Pro, lançado em março sem o recurso anunciado, que acabou chegando mais tarde. O mesmo aconteceu com o LG V30. No caso dos dois modelos, tanto a Oppo quanto a LG disponibilizaram os arquivos necessários para o recurso meses depois da chegada dos aparelhos às lojas.
“Em breve”
Quando perguntei aos editores do NextPit sobre outros exemplos de recursos prometidos que não estavam disponíveis no lançamento, alguns ainda não podem ser usados, mesmo meses ou anos depois da estreia do produto:
Tendência cada vez maior
A situação chegou a tal ponto que até tem nome — Princípio Banana — em referência ao fato da fruta ser colhida antes mesmo de amadurecer. O termo descreve situações em que recursos (inclusive de hardware) são testados com o produto já à venda, como no caso do piloto automático da Tesla, ainda em desenvolvimento.
Isso muitas vezes é usado como desculpa para não investir o tempo necessário em desenvolvimento e testes. E em alguns casos, problemas descobertos posteriormente podem revelar bugs e incompatibilidades que não podem ser solucionados com uma simples atualização de firmware, algo que aconteceu neste ano com (caros) receivers para home theatres incompatíveis com parte da especificação HDMI 2.1.
Ao que tudo indica, este tipo de situação não deve se tornar mais rara, pelo contrário, fatores como os ciclos regulares de lançamentos das marcas — iPhones em setembro, Galaxy S no primeiro semestre, Galaxy Fold/Flip em agosto, por exemplo — pressionam as equipes de desenvolvimento de produto.
Enquanto isso, na outra ponta, as pressões de mercado, com as quedas de preço pouco tempo após o lançamento, fazem com que as empresas tentem maximizar as vendas no período mais lucrativo de cada produto, geralmente o período de pré-venda.
Isso talvez explique porque a Apple, com seu público fiel, tenha anunciado um recurso ainda não pronto para uso, o codec ProRES — que no anúncio do iPhone 13 Pro não tinha previsão de lançamento. O formato de vídeo proprietário da marca não tinha chances de ser implementado antes por uma concorrente, e poderia muito bem ter sido destacado posteriormente com o lançamento do iOS 15.1, como a empresa fez com o TRA ao lançar o iOS 14.5.
A mesma ideia ajuda a entender porque a Sony anunciou em suas smart TVs Android um recurso que só foi disponibilizado 19 meses após ser divulgado. A estratégia serviu para atrair os compradores dos consoles PlayStation 5 e Xbox Series X|S, que só em outubro de 2021 (quase um ano após a estreia dos aparelhos) puderam utilizar recursos prometidos em março de 2020.
Cadastro beta
A solução para desincentivar as empresas a adotarem este tipo de estratégia é fazer com que o máximo de pessoas deixe de comprar produtos em pré-venda. E apenas adquirir gadgets com base no que é efetivamente oferecido e não no que é prometido.
Neste ponto, avaliações de produtos como os realizados pela equipe do NextPit ajudam a esclarecer o que funciona de fato e o que não passa de marketing. Recursos prometidos podem muito bem serem cancelados, algo que já aconteceu com atualizações de versões do sistema Android, por exemplo.
Nos casos em que a empresa simplesmente não entrega o prometido, a recomendação é procurar órgãos de defesa do consumidor para tentar recuperar o dinheiro investido. E depois aprender a lição e não voltar a ser cobaia das empresas — algo que as pessoas que acompanham as notícias de vaquinhas virtuais do tipo Kickstarter já devem estar mais do que cientes…